Assunto que amo, sobre o qual sou diariamente questionada – os vinhos naturebas
Eles traduzem o sabor e a origem das uvas de maneira autêntica, expressando a natureza na taça. O que eles têm em comum? Simples. Em todos, não são usados fertilizantes sintéticos e fungicidas no processo de cultivo das uvas. E mais: durante a vinificação, na maioria dos casos, não se utiliza produtos químicos para “corrigir” a acidez, o aspecto tânico ou qualquer outro defeito do vinho. Além disso, as leveduras usadas na fermentação da bebida, chamadas de selvagens ou indígenas, vem das cascas das uvas – e não produzidas industrialmente.
Vinificação sustentável se concentra na redução de desperdícios. Os produtores de vinho sustentáveis levam em consideração a quantidade de água e energia que estão usando nos processos de produção agrícola e de vinho, para que possam alimentar suas máquinas usando energia solar ou dependendo da chuva natural, em vez de irrigação.
Tem muita gente que acha que basta um vinho ser orgânico para chamá-lo de natural, mas não é bem assim.
No caso dos orgânicos, o cultivo de uvas se baseia no mesmo princípio de qualquer outro plantio orgânico, ou seja, nada de agrotóxicos nos vinhedos. Todo adubo e controle de pragas, são feitos com substâncias naturais, como predadores naturais, que vivem soltos nos vinhedos para ajudarem no combate as pragas e pulgões – caso de galinhas, patos e joaninhas. O objetivo é promover proteção ao meio ambiente e maior qualidade de vida ao ser humano, seja o que trabalha diretamente na produção ou o que consome o produto final.
O que não quer dizer que esse tipo de vinho não passe por algum processo químico em algum momento durante a vinificação, mas se existe o respeito no vinhedo, o comum é que siga assim até o final.
Predadores naturais soltos em vinhedos orgânicos para ajudarem no combate as pragas
Já os biodinâmicos acrescentam práticas ancestrais, o que muitas vezes traz um certo misticismo na produção desse tipo de vinho. A adubação é feita com preparos especiais para cuidar dos vinhedos, que visam estabelecer o equilíbrio da terra, tornando-a naturalmente fértil. A busca desse equilíbrio é que faz o vinhedo ficar menos suscetível a doenças e pragas. A produção leva ainda em conta os ciclos do cosmo, as fases da lua e influência do sol sob as videiras. O conceito é proteger a biodiversidade, a relação entre os reinos vegetal, mineral e animal, produzindo vinhos que além de mais puros, interagem e absorvem as forças cósmicas.
Vinhedo biodinâmico no Chile da Viñedo de Alcohuaz do revolucionário enólogo Marcelo Retamal, referência no assunto.
Por fim, os naturais são elaborados da maneira mais natureba possível, influenciados simples e integralmente pela ação da natureza. Além das leveduras selvagens e do cultivo orgânico das uvas, nada é acrescentado durante todo o processo de elaboração da bebida. Processos químicos e maquinários ali passam longe, assim como se adiciona o mínimo possível de conservante ou até nenhum. Máquinas são pouco utilizadas, conforme os métodos ancestrais.
Sala de ânforas enterradas do produtor Josko Gravner que faz vinhos naturais e de forma ancestral no Friuli, nordeste da Italia.
Particularmente, adoro descobrir o que esses vinhos tem a oferecer. Ainda mais levando em consideração o fato de serem mais saudáveis, tendência em todos setores de consumo. Não quero dizer que o vinho convencional não seja tão bom quanto e, muitas vezes, até melhor do que os naturebas. A única certeza é que não existem regras rígidas na elaboração de um bom vinho. Tudo que nos proporciona novas e boas experiências sempre deve ser considerado – e é da maior importância.
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